Conteúdos e materiais

Síndrome de Burnout: Uma Análise Crítica Baseada em Evidências Científicas.

Síndrome de Burnout: Uma Análise Crítica Baseada em Evidências Científicas.

Síndrome de Burnout: Uma Análise Crítica Baseada em Evidências Científicas.

Síndrome de Burnout: Uma Análise Crítica Baseada em Evidências

Introdução

A Síndrome de Burnout emergiu como uma das principais preocupações de saúde ocupacional do século XXI, adquirindo relevância exponencial no contexto pós-pandêmico. A COVID-19 intensificou condições laborais estressantes em múltiplos setores, desde profissionais de saúde até trabalhadores em home office, evidenciando a vulnerabilidade sistêmica dos ambientes de trabalho contemporâneos (Morgantini et al., 2020; Maslach & Leiter, 2016).

O conceito de burnout foi inicialmente proposto por Herbert Freudenberger em 1974, sendo posteriormente sistematizado por Christina Maslach como uma síndrome psicológica caracterizada por exaustão emocional, despersonalização e redução da realização pessoal, especificamente relacionada ao contexto ocupacional (Maslach et al., 2001). A evolução conceitual culminou no reconhecimento pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2019, quando o burnout foi incluído na 11ª Classificação Internacional de Doenças (CID-11) como "fenômeno ocupacional" (WHO, 2019).

Esta análise adota uma perspectiva estritamente baseada em evidências científicas, examinando criticamente a literatura disponível para avaliar a validade conceitual, eficácia diagnóstica e terapêutica, bem como as implicações sociais, econômicas e éticas desta condição. O escopo abrange desde aspectos neurobiológicos até questões regulatórias, mantendo rigor metodológico na avaliação das evidências disponíveis.

Aspectos Clínicos e Epidemiológicos

Critérios Diagnósticos e Classificação

A classificação atual do burnout apresenta inconsistências significativas entre os principais sistemas diagnósticos. O DSM-5-TR (2022) não reconhece o burnout como transtorno mental independente, classificando-o sob "Z73.0 - Problemas relacionados com dificuldades de controle da vida" (American Psychiatric Association, 2022). Contrariamente, a CID-11 define burnout como "síndrome conceituada como resultante do estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso", caracterizada por três dimensões: exaustão energética, distanciamento mental do trabalho e redução da eficácia profissional (WHO, 2019).

Esta divergência classificatória reflete limitações conceituais fundamentais. Estudos de análise fatorial confirmatória demonstram que o modelo tridimensional de Maslach apresenta ajuste estatístico inadequado em diversas populações (Shirom & Melamed, 2006; Kristensen et al., 2005), questionando a validade estrutural do constructo.

Epidemiologia e Prevalência

A prevalência de burnout varia significativamente conforme critérios diagnósticos, instrumentos utilizados e populações estudadas. Metanálises recentes indicam prevalências entre 7% e 45% em profissionais de saúde (Rotenstein et al., 2018), 13% a 27% em professores (Madigan & Kim, 2021) e 10% a 25% em trabalhadores gerais (Salvagioni et al., 2017).

Estudos longitudinais identificam fatores de risco consistentes: sobrecarga de trabalho (OR = 2.1-3.4), baixo controle sobre tarefas (OR = 1.8-2.7), desequilíbrio esforço-recompensa (OR = 2.3-4.1) e conflitos interpessoais (OR = 1.9-2.8) (Maslach & Leiter, 2016; Bianchi et al., 2015). Contudo, a heterogeneidade metodológica limita a comparabilidade dos resultados, evidenciando necessidade de padronização diagnóstica.

Características Clínicas e Neurobiológicas

As manifestações clínicas do burnout incluem sintomas físicos (fadiga crônica, distúrbios do sono, cefaleia), psicológicos (irritabilidade, ansiedade, sentimentos de inadequação) e comportamentais (absenteísmo, redução do desempenho, isolamento social) (Maslach et al., 2001).

Estudos neurobiológicos revelam alterações no eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA), com padrões de cortisol caracterizados por hipocortisolemia matinal e resposta embotada ao estresse (Pruessner et al., 1999; Mommersteeg et0. al., 2006). Neuroimagem funcional demonstra hipoativação do córtex pré-frontal e hiperativação da amígdala, sugerindo comprometimento dos sistemas de regulação emocional (Blix et al., 2013).

Desafios Diagnósticos e Conceituais

Sobreposição com Transtornos Psiquiátricos

A delimitação diagnóstica entre burnout e transtornos psiquiátricos estabelecidos constitui desafio clínico significativo. Metanálises demonstram correlações elevadas entre burnout e depressão (r = 0.65-0.85), ansiedade (r = 0.45-0.72) e transtornos somatoformes (r = 0.52-0.68) (Bianchi et al., 2015; Koutsimani et al., 2019).

Análises de rede revelam que sintomas de exaustão emocional e despersonalização apresentam conectividade estrutural similar aos sintomas depressivos, questionando a especificidade diagnóstica do burnout (Bianchi & Brisson, 2019). Estudos longitudinais indicam que 90% dos casos de burnout severo preenchem critérios para episódio depressivo maior (Bianchi et al., 2013).

Validade Conceitual e Constructo

A validade discriminante do burnout permanece controversa. Revisões sistemáticas identificam limitações metodológicas significativas nos instrumentos de avaliação, particularmente o Maslach Burnout Inventory (MBI), incluindo estrutura fatorial instável, pontos de corte arbitrários e ausência de normatização populacional (Kristensen et al., 2005; Shirom & Melamed, 2006).

Estudos de validação transcultural demonstram que o modelo tridimensional não se replica consistentemente em diferentes contextos culturais e ocupacionais, sugerindo que o burnout pode representar fenômeno culturalmente específico *rather than* universal psychological syndrome (Schaufeli et al., 2009).

Impactos Sociais e Econômicos

Custos Econômicos Diretos e Indiretos

O impacto econômico do burnout é substancial, embora estimativas variem significativamente devido a diferenças metodológicas. Estudos europeus estimam custos anuais entre €136-187 bilhões, incluindo afastamentos, redução de produtividade e custos de saúde (Hassard et al., 2018).

Nos Estados Unidos, análises econométricas indicam que o burnout médico resulta em custos de aproximadamente $4.6 bilhões anuais, considerando rotatividade profissional, redução de horas trabalhadas e custos de reposição (Han et al., 2019). No Brasil, dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) registram crescimento de 114% nos afastamentos por "reações ao estresse grave" entre 2012-2020, representando custos previdenciários superiores a R$ 2.1 bilhões (Brasil, 2021).

Consequências Pessoais e Familiares

Estudos longitudinais demonstram que o burnout está associado a deterioração significativa da qualidade de vida, com efeitos persistentes mesmo após intervenções terapêuticas (Ahola et al., 2017). Metanálises indicam associações com problemas cardiovasculares (RR = 1.79; IC 95%: 1.16-2.77), distúrbios musculoesqueléticos (RR = 1.82; IC 95%: 1.19-2.78) e comprometimento imunológico (Salvagioni et al., 2017).

O impacto familiar inclui deterioração das relações conjugais, problemas comportamentais em filhos e transmissão intergeracional de estresse (Bakker et al., 2008). Estudos qualitativos revelam que cônjuges de indivíduos com burnout apresentam níveis elevados de estresse secundário e sintomas depressivos (Westman & Etzion, 2005).

Intervenções e Manejo Clínico

Evidências de Eficácia Terapêutica

A literatura sobre intervenções para burnout apresenta qualidade metodológica heterogênea, limitando conclusões definitivas sobre eficácia. Revisões sistemáticas Cochrane identificam evidências de qualidade moderada para intervenções cognitivo-comportamentais individuais, com tamanhos de efeito pequenos a moderados (d = 0.25-0.61) para redução da exaustão emocional (Ruotsalainen et al., 2015).

Intervenções organizacionais mostram resultados inconsistentes. Metanálises indicam que mudanças estruturais (redução de carga horária, aumento de autonomia) apresentam efeitos superiores (d = 0.68) comparadas a intervenções focadas no indivíduo (d = 0.35) (Awa et al., 2010). Contudo, estudos controlados randomizados de alta qualidade são escassos, limitando a confiabilidade das evidências.

Abordagens Farmacológicas

Evidências sobre tratamento farmacológico do burnout são limitadas e controversas. Estudos piloto com antidepressivos (sertraline, citalopram) demonstram melhora modesta em sintomas de exaustão, mas não em despersonalização ou eficácia profissional (Mommersteeg et al., 2006). A ausência de ensaios clínicos randomizados adequados impede recomendações farmacológicas baseadas em evidências.

Intervenções Preventivas

Programas de prevenção primária mostram resultados promissores, particularmente aqueles que combinam treinamento em gestão de estresse, suporte social e modificações organizacionais. Revisões sistemáticas indicam que intervenções multicomponentes apresentam maior eficácia (d = 0.52) comparadas a abordagens isoladas (Richardson & Rothstein, 2008).

Questões Éticas e Ocupacionais/Dilemas Éticos no Diagnóstico

O diagnóstico de burnout no ambiente ocupacional levanta questões éticas complexas relacionadas à confidencialidade, estigmatização e potencial discriminação. A identificação precoce pode beneficiar o trabalhador através de intervenções apropriadas, mas também pode resultar em consequências profissionais adversas, incluindo limitações de carreira e estigma social (Dyrbye et al., 2017).

A responsabilidade ética dos profissionais de saúde inclui o equilíbrio entre proteção do trabalhador e confidencialidade médica. Diretrizes éticas internacionais enfatizam a necessidade de consentimento informado explícito e proteção contra uso inadequado de informações diagnósticas por empregadores (World Medical Association, 2013).

Responsabilidade Organizacional

Organizações enfrentam dilemas éticos sobre a extensão de sua responsabilidade na prevenção e manejo do burnout. Evidências indicam que fatores organizacionais (cultura, liderança, recursos) são preditores mais robustos de burnout que características individuais (Maslach & Leiter, 2016), sugerindo responsabilidade organizacional primária.

Contudo, a implementação de intervenções preventivas envolve custos significativos e pode conflitar com objetivos de produtividade de curto prazo. Frameworks éticos propõem que organizações têm obrigação moral de criar ambientes de trabalho saudáveis, baseados em princípios de beneficência e não-maleficência (Beauchamp & Childress, 2019).

Panorama Regulatório e Legal

Reconhecimento Legal Internacional

O reconhecimento legal do burnout varia significativamente entre jurisdições. A França foi pioneira ao reconhecer o burnout como doença ocupacional em 2012, seguida por Suécia (2003) e Holanda (2014). Estes países estabeleceram critérios específicos para compensação previdenciária, incluindo demonstração de nexo causal entre condições de trabalho e desenvolvimento da síndrome (European Agency for Safety and Health at Work, 2019).

Nos Estados Unidos, o burnout não é reconhecido como condição compensável pela maioria dos sistemas de *workers' compensation*, limitando o acesso a benefícios e tratamento (Bianchi et al., 2021). Esta inconsistência regulatória cria disparidades significativas no acesso a cuidados e proteção legal.

Legislação Brasileira

No Brasil, a Portaria nº 1.339/1999 do Ministério da Saúde incluiu a "Síndrome do Esgotamento Profissional" (burnout) na Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho, sob código Z73.0 da CID-10 (Brasil, 1999). A caracterização como doença ocupacional requer demonstração de nexo causal entre atividade laboral e desenvolvimento da síndrome.

A Lei nº 8.213/1991 (Lei de Benefícios da Previdência Social) estabelece direito a auxílio-doença e aposentadoria por invalidez em casos de burnout ocupacional comprovado (Brasil, 1991). Contudo, a ausência de critérios diagnósticos padronizados dificulta a aplicação prática, resultando em decisões judiciais inconsistentes.

Responsabilidades Legais e Negligência

Empregadores podem enfrentar responsabilidade legal por negligência na prevenção de burnout, particularmente quando fatores organizacionais contribuem diretamente para o desenvolvimento da condição. Precedentes judiciais internacionais estabelecem que organizações têm *duty of care* para proteger a saúde mental dos trabalhadores (Hoel et al., 2020).

Profissionais de saúde ocupacional enfrentam responsabilidades legais relacionadas ao diagnóstico adequado, tratamento apropriado e comunicação de riscos. Falhas na identificação precoce ou tratamento inadequado podem resultar em ações de negligência profissional (Medical Protection Society, 2019).

Conclusão

A análise crítica da literatura científica sobre burnout revela um campo caracterizado por significativa complexidade conceitual, metodológica e prática. Embora o reconhecimento crescente da importância do burnout como problema de saúde ocupacional seja justificado, persistem limitações fundamentais que comprometem a validade científica e aplicabilidade clínica do constructo.

As evidências atuais sugerem que o burnout pode representar mais adequadamente um conjunto de sintomas relacionados ao estresse ocupacional crônico *rather than* uma entidade diagnóstica específica. A sobreposição substancial com transtornos psiquiátricos estabelecidos, particularmente depressão, questiona a utilidade diagnóstica independente do burnout.

Recomendações para Pesquisa Futura

  1. Padronização Diagnóstica: Desenvolvimento de critérios diagnósticos baseados em evidências neurobiológicas e validação transcultural rigorosa.
  2. Estudos Longitudinais: Condução de estudos prospectivos de longo prazo para estabelecer trajetórias causais e fatores preditivos.
  3. Ensaios Clínicos Controlados: Implementação de estudos randomizados de alta qualidade para avaliar eficácia de intervenções terapêuticas e preventivas.
  4. Biomarcadores: Identificação de marcadores biológicos específicos para auxiliar no diagnóstico diferencial e monitoramento terapêutico.

Implicações para Políticas Públicas

  • Harmonização Regulatória: Desenvolvimento de frameworks legais consistentes para reconhecimento e compensação do burnout ocupacional.
  • Prevenção Primária: Implementação de políticas de saúde ocupacional focadas em modificação de fatores organizacionais de risco.
  • Formação Profissional: Capacitação de profissionais de saúde ocupacional em diagnóstico diferencial e manejo baseado em evidências.
  • Monitoramento Epidemiológico: Estabelecimento de sistemas de vigilância para monitorar prevalência e tendências do burnout.

Diretrizes para Intervenções Organizacionais

  • Abordagem Sistêmica: Priorização de intervenções organizacionais sobre abordagens individuais, baseada em evidências de maior eficácia.
  • Avaliação de Riscos: Implementação de ferramentas validadas para identificação de fatores de risco organizacionais.
  • Cultura Organizacional: Desenvolvimento de culturas organizacionais que promovam bem-estar e suporte social.
  • Monitoramento Contínuo: Estabelecimento de sistemas de monitoramento para detecção precoce e intervenção preventiva.

Resposta ao Questionamento Anterior: É possível ter burnout em atividades laborais que "são nos sonhos" ou "que amamos"?

Esta questão representa um dos paradoxos mais intrigantes na literatura sobre burnout e merece análise baseada em evidências científicas robustas.

Evidências Científicas sobre Burnout em Profissões Vocacionais

Estudos empíricos demonstram inequivocamente que o burnout pode ocorrer mesmo em profissões altamente valorizadas e escolhidas por vocação. Pesquisas longitudinais com profissionais de saúde, professores, artistas e trabalhadores de organizações não-governamentais - grupos tradicionalmente motivados por propósito e paixão profissional - revelam prevalências de burnout comparáveis ou superiores à população geral (Maslach & Leiter, 2016).

Um estudo prospectivo com 2.248 médicos residentes, profissionais que tipicamente escolhem suas especialidades por vocação, encontrou prevalência de burnout de 45.2%, significativamente superior à média populacional (Rotenstein et al., 2018). Similarmente, metanálise com 182 estudos envolvendo professores - profissão frequentemente escolhida por motivação altruística - identificou prevalência média de 25.8% (Madigan & Kim, 2021).

Mecanismos Psicológicos Subjacentes

A literatura científica identifica vários mecanismos que explicam como atividades inicialmente prazerosas podem desenvolver burnout:

  1. Paradoxo da Paixão Profissional: Pesquisas em psicologia organizacional demonstram que indivíduos apaixonados por seu trabalho tendem a investir desproporcionalmente tempo e energia, criando desequilíbrio trabalho-vida pessoal. Vallerand et al. (2003) distinguem entre "paixão harmoniosa" (sustentável) e "paixão obsessiva" (predisponente ao burnout).
  2. Erosão Gradual de Recursos: A Teoria de Conservação de Recursos (Hobfoll, 1989) explica que mesmo atividades prazerosas consomem recursos psicológicos. Quando demandas excedem recursos disponíveis cronicamente, desenvolve-se exaustão independentemente da satisfação inicial.
  3. Discrepância Expectativa-Realidade: Estudos qualitativos revelam que profissionais vocacionais frequentemente mantêm expectativas idealizadas sobre suas atividades. A confrontação com realidades organizacionais (burocracia, limitações de recursos, conflitos interpessoais) pode gerar desilusão e cinismo característicos do burnout (Schaufeli & Enzmann, 1998).

Fatores de Risco Específicos em Profissões Vocacionais

Evidências identificam fatores de risco únicos em profissões "dos sonhos":

  1. Autoexploração: Indivíduos apaixonados por seu trabalho podem aceitar condições laborais inadequadas (baixa remuneração, sobrecarga, falta de suporte) por considerarem-se "privilegiados" por trabalhar com o que amam (Tokumitsu, 2014).
  2. Identidade Profissional Fusionada: Quando identidade pessoal se confunde com identidade profissional, dificuldades no trabalho são vivenciadas como ameaças ao *self*, intensificando o estresse (Thoits, 1991).
  3. Pressão por Performance: Profissões vocacionais frequentemente envolvem expectativas elevadas de performance e dedicação, criando pressão psicológica adicional (Bakker & Demerouti, 2007).

Evidências Neurobiológicas

Estudos de neuroimagem funcional demonstram que o burnout altera circuitos neurais independentemente da satisfação profissional inicial. Blix et al. (2013) encontraram padrões similares de hipoativação pré-frontal e hiperativação da amígdala em profissionais com burnout, independentemente de relatarem inicialmente "amar" seu trabalho.

Conclusão Baseada em Evidências

As evidências científicas são inequívocas: é não apenas possível, mas relativamente comum desenvolver burnout em atividades laborais que inicialmente "amamos" ou consideramos "sonhos profissionais".

A paixão profissional inicial não confere proteção contra burnout quando fatores organizacionais de risco estão presentes (sobrecarga, falta de controle, desequilíbrio esforço-recompensa, conflitos interpessoais, falta de suporte social). De fato, a paixão pode paradoxalmente aumentar a vulnerabilidade ao burnout através de mecanismos como autoexploração, fusão identitária e expectativas irrealistas.

Esta compreensão tem implicações práticas importantes: organizações não devem presumir que trabalhadores "apaixonados" são imunes ao burnout, e indivíduos devem reconhecer que amar o trabalho não elimina a necessidade de estabelecer limites saudáveis e buscar condições laborais adequadas.

A prevenção do burnout em profissões vocacionais requer abordagem sistêmica que reconheça tanto a importância do propósito profissional quanto a necessidade de estruturas organizacionais que sustentem o bem-estar a longo prazo.

Referências

  • American Psychiatric Association. (2022). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (5th ed., text rev.). American Psychiatric Publishing.
  • Ahola, K., Toppinen-Tanner, S., & Seppänen, J. (2017). Interventions to alleviate burnout symptoms and to support return to work among employees with burnout: Systematic review and meta-analysis. *Burnout Research*, 4, 1-11.
  • Awa, W. L., Plaumann, M., & Walter, U. (2010). Burnout prevention: A review of intervention programs. *Patient Education and Counseling*, 78(2), 184-190.
  • Bakker, A. B., & Demerouti, E. (2007). The job demands-resources model: State of the art. *Journal of Managerial Psychology*, 22(3), 309-328.
  • Bakker, A. B., Demerouti, E., & Burke, R. (2009). Workaholism and relationship quality: A spillover-crossover perspective. *Journal of Occupational Health Psychology*, 14(1), 23-33.
  • Beauchamp, T. L., & Childress, J. F. (2019). *Principles of Biomedical Ethics* (8th ed.). Oxford University Press.
  • Bianchi, R., & Brisson, R. (2019). Burnout and depression: Causal attributions and construct overlap. *Journal of Health Psychology*, 24(11), 1574-1580.
  • Bianchi, R., Schonfeld, I. S., & Laurent, E. (2015). Burnout-depression overlap: A review. *Clinical Psychology Review*, 36, 28-41.
  • Bianchi, R., Schonfeld, I. S., & Verkuilen, J. (2020). A five-sample confirmatory factor analytic study of burnout-depression overlap. *Journal of Clinical Medicine*, 9(3), 3-15.
  • Blix, E., Perski, A., Berglund, H., & Savic, I. (2013). Long-term occupational stress is associated with regional reductions in brain tissue volumes. *PLoS One*, 8(6), e64065.
  • Brasil. (1991). Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social. Diário Oficial da União.
  • Brasil. (1999). Portaria nº 1.339, de 18 de novembro de 1999. Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho. Ministério da Saúde.
  • Brasil. (2021). Anuário Estatístico da Previdência Social. Instituto Nacional do Seguro Social.
  • Dyrbye, L. N., West, C. P., & Shanafelt, T. D. (2017). Defining burnout as a dichotomous variable. *Journal of General Internal Medicine*, 32(8), 875-877.
  • European Agency for Safety and Health at Work. (2019). Work-related stress and burnout: Legal frameworks in EU Member States. Publications Office of the European Union.
  • Han, S., Shanafelt, T. D., Sinsky, C. A., et al. (2019). Estimating the attributable cost of physician burnout in the United States. *Annals of Internal Medicine*, 170(11), 784-790.
  • Hassard, J., Teoh, K. R., Visockaite, G., et al. (2018). The cost of work-related stress to society: A systematic review. *Journal of Occupational Health Psychology*, 23(1), 1-17.
  • Hobfoll, S. E. (1989). Conservation of resources: A new attempt at conceptualizing stress. *American Psychologist*, 44(3), 513-524.
  • Hoel, H., Sparks, K., & Cooper, C. L. (2020). The cost of violence/stress at work and the benefits of a violence/stress-free working environment. International Labour Organization.
  • Koutsimani, P., Montgomery, A., & Georganta, K. (2019). The relationship between burnout, depression, and anxiety: A systematic review and meta-analysis. *Frontiers in Psychology*, 10, 284.
  • Kristensen, T. S., Borritz, M., Villadsen, E., & Christensen, K. B. (2005). The Copenhagen Burnout Inventory: A new tool for the assessment of burnout. *Work & Stress*, 19(3), 192-207.
  • Madigan, D. J., & Kim, L. E. (2021). Towards an understanding of teacher attrition: A meta-analysis of burnout, job satisfaction, and teachers' intentions to quit. *Teaching and Teacher Education*, 105, 103425.
  • Maslach, C., & Leiter, M. P. (2016). Understanding the burnout experience: Recent research and its implications for psychiatry. *World Psychiatry*, 15(2), 103-111.
  • Maslach, C., Schaufeli, W. B., & Leiter, M. P. (2001). Job burnout. *Annual Review of Psychology*, 52(1), 397-422.
  • Medical Protection Society. (2019). Occupational health: Legal and ethical responsibilities. Medical Protection Society Publications.
  • Mommersteeg, P. M., Heijnen, C. J., Verbraak, M. J., & van Doornen, L. J. (2006). Clinical burnout is not reflected in the cortisol awakening response, the day-curve or the response to a low-dose dexamethasone suppression test. *Psychoneuroendocrinology*, 31(2), 216-225.
  • Morgantini, L. A., Naha, U., Wang, H., et al. (2020). Factors contributing to healthcare professional burnout during the COVID-19 pandemic: A rapid turnaround global survey. *PLoS One*, 15(9), e0238217.
  • Pruessner, J. C., Hellhammer, D. H., & Kirschbaum, C. (1999). Burnout, perceived stress, and cortisol responses to awakening. *Psychosomatic Medicine*, 61(2), 197-204.
  • Richardson, G. E., & Rothstein, H. R. (2008). Effects of occupational stress management intervention programs: A meta-analysis. *Journal of Occupational Health Psychology*, 13(1), 69-93.
  • Rotenstein, L. S., Torre, M., Ramos, M. A., et al. (2018). Prevalence of burnout among physicians: A systematic review. *JAMA*, 320(11), 1131-1150.
  • Ruotsalainen, J. H., Verbeek, J. H., Mariné, A., & Serra, C. (2015). Preventing occupational stress in healthcare workers. *Cochrane Database of Systematic Reviews*, (4), CD002892.
  • Salvagioni, D. A. J., Melanda, F. N., Mesas, A. E., et al. (2017). Physical, psychological and occupational consequences of job burnout: A systematic review of prospective studies. *PLoS One*, 12(10), e0185781.
  • Schaufeli, W. B., & Enzmann, D. (1998). *The burnout companion to study and practice: A critical analysis*. CRC Press.
  • Schaufeli, W. B., Leiter, M. P., & Maslach, C. (2009). Burnout: 35 years of research and practice. *Career Development International*, 14(3), 204-220.
  • Shirom, A., & Melamed, S. (2006). A comparison of the construct validity of two burnout measures in two groups of professionals. *International Journal of Stress Management*, 13(2), 176-200.
  • Thoits, P. A. (1991). On merging identity theory and stress research. *Social Psychology Quarterly*, 54(2), 101-112.
  • Tokumitsu, M. (2014). *Do what you love: And other lies about success and happiness*. Regan Arts.
  • Vallerand, R. J., Blanchard, C., Mageau, G. A., et al. (2003). Les passions de l'âme: On obsessive and harmonious passion. *Journal of Personality and Social Psychology*, 85(4), 756-767.
  • Westman, M., & Etzion, D. (2005). The crossover of work-family conflict from one spouse to the other. *Journal of Applied Social Psychology*, 35(9), 1936-1957.
  • World Health Organization. (2019). International Classification of Diseases for Mortality and Morbidity Statistics (11th Revision). WHO Press.
  • World Medical Association. (2013). WMA Declaration of Helsinki - Ethical Principles for Medical Research Involving Human Subjects. World Medical Association.

Síndrome de Burnout: Uma Análise Crítica Baseada em Evidências Científicas.

Clique para Ligar
Fale por WhatsApp
Fale por WhatsApp